Crianças fumam crack perto da sede do poder no DF

No ano passado, do total de atendimentos de dependentes químicos na saúde pública do DF, apenas 0,2% usava crack. Somente nos dois primeiros meses deste ano, o percentual saltou para 27%.


Cenas chocantes de um drama na capital do Brasil. Brasília foi invadida pelo crack. A Esplanada dos Ministérios está cercada por pontos de venda e consumo da droga. As autoridades reconhecem que falta pouco para a situação ficar fora de controle.

A moça e o garoto fumam crack ao ar livre em uma tarde de sexta-feira. Na triste cena, há um terceiro fumante que é obrigado a ingerir a droga: o bebê que a moça tem na barriga. Diz a lenda que no fim do arco-íris existe um pote de ouro. Mas na capital federal, existem cracolândias.

“Que horror! Onde nós estamos?”, se questiona uma mulher.

Estamos em Brasília, a capital do país. A praça que chocou a moradora fica no Eixo
Monumental. Todos os ministério estão ao longo de uma superavenida, que acaba na Praça dos Três Poderes. Em uma ponta do eixo, o Congresso Nacional. Na outra, duas cracolândias, cortadas por um viaduto. Cerca de dois quilômetros separam mundos completamente diferentes.

“Onde você chega, você vê o pessoal consumindo ao ar livre”, denuncia um homem.

De um lado do viaduto, em uma tarde de um dia da semana, um garoto prepara e fuma o crack usando papelão para o vento não apagar o fogo. Aparecem uma adolescente e um menino. A adolescente pega o cachimbo improvisado e o isqueiro para fumar também, enquanto o menino parece transtornado. Então, eles vão embora.

Mas ela aparece de novo, dessa vez, é um homem quem fuma. Quando o homem se afasta, a adolescente fuma mais uma vez. Acontece com ela o que aconteceu com um dependente, morador de Brasília que não quis se identificar e se trata em uma clínica particular: “Bastou dar um trago e ter todas aquelas sensações que parece que a droga agarrou na minha garganta e falou: você é meu”.

Ainda na primeira Cracolândia encontrada pelo Fantástico, ninguém parece muito preocupado. Um homem retira pedras de crack de uma caixa de engraxate. Pouco depois, uma garota encapuzada fuma a droga e recebe um pacote de um homem. É o tráfico em ação.

Segundo o secretário de segurança do Distrito Federal, João Monteiro Neto, o tráfico de Brasília é varejista, e os fornecedores ficam nas cidades-satélites: “Os laboratórios identificados na Região do entorno e que já sofreram a ação da polícia, esse laboratórios, eles têm por costume fazer a distribuição de pequenas porções para os pequenos traficantes, e esses, para os formiguinhas”.

Na reta do Congresso Nacional, no outro lado do viaduto, mais uma Cracolândia. É um local movimentado. Crianças se misturam a adultos que procuram se esconder entre as árvores típicas do cerrado.

Uma adolescente está deitada como se aproveitasse um momento de lazer. Na verdade, é uma traficante. Ela entrega pedras de crack a uma mulher, que repassa a droga ao acompanhante, e em troca recebe dinheiro dele.

Qual a explicação para tanto tráfico e tanto consumo às claras? Uma psicanalista de uma clínica que também trata de usuários retirados das ruas diz que faltam ações integradas no combate ao problema.

“Todo mundo se une para o combate à dengue, combate à gripe. Agora, dá um passeio lá no Setor Comercial Sul. Vê o tamanho das crianças que tão fumando crack, cadê a providência?”, diz a psiquiatra Janete Pinheiro.

Em um estacionamento do Setor Comercial Sul, crianças fumam livremente. É a terceira Cracolândia flagrada pelo Fantástico em Brasília. As crianças pensam que estão protegidas pelo canteiro de plantas. Adultos de melhor condição social também fumam no local. Quando cai a noite, o estacionamento vira ponto do tráfico.

O traficante entrega droga ao motorista de um carro. Instantes depois, o mesmo traficante se mostra debochado. Ele acena quando um carro da polícia passa pelo estacionamento. Os policiais não param. Logo depois, o mesmo traficante aproveita para fumar crack. As autoridades admitem que o problema é muito grave.

“Eu diria que a situação ainda não saiu do controle mas está perto disso. A gente pode falar no crescimento epidêmico do consumo de crack, dos dependentes químicos dessa droga por todos esses fatores. Pelo baixo preço, por ser uma droga barata e de fácil aquisição em qualquer local”, aponta o secretário de saúde do Distrito Federal Joaquim Barros.

“Hoje é possível ver andando pelas ruas que há um consumo, vamos dizer assim, descontrolado da sociedade. As estatísticas mostram que a despeito do número de apreensões de droga e prisões de traficantes terem crescido, também têm crescido por outro lado a oferta e também o consumo”, completa o secretário de segurança pública João Monteiro Neto.

Os número mostram um crescimento assustador do crack na capital do Brasil. No ano passado, do total de atendimentos de dependentes químicos na saúde pública, apenas 0,2% usava crack. Somente nos dois primeiros meses deste ano, o percentual saltou para 27%.

Por isso, o Ministério da Saúde informa que reconhece a urgência de enfrentar o problema. Um grupo formado por representantes dos governos federal e distrital dará acolhimento e proteção a crianças e adolescentes usuários do crack.

“Daqui a pouco seu filho, meu neto, daqui a pouco a sociedade toda está com um cachimbo na mão, e aí fizemos o quê no momento em que podia ser feito alguma coisa?”, questiona a psicanalista Janete Pinheiro.

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